Colônia: Olhando para o passado da Mata Atlântica
A Mata Atlântica poderia ser tratada como “As Mata Atlânticas”, por ser um bioma plural, com uma
diversidade de ambientes ao longo de sua extensão. Mas a Mata Atlântica não é diversa só no espaço, mas
também no tempo: ela nem sempre foi desse jeito que é hoje. Uma região na zona sul da cidade de São
Paulo pode ajudar a entender essa história.
A cratera de Colônia é uma área circular de 3,6 km de diâmetro e até 450 metros de profundidade,
localizada em Vargem Grande, no distrito de Parelheiros (SP). Nessa área, pesquisadores conseguem
“viajar no tempo" para entender o passado.
A cratera de Colônia acumulou sedimentos pelos últimos milhões de anos. Como se fossem camadas de um bolo
de festa. Mas em vez de recheio, o solo tem camadas de detritos, que incluem terra, pedras,
microrganismos, restos de plantas e animais mortos. Perfurando o solo e analisando esse sedimento,
pesquisadores investigaram essas camadas para acessar as informações que a cratera guardou ao longo dos
últimos milhares de anos. Cada camada representa uma época daquele solo e quanto mais funda, mais
antiga.
Para perfurar o solo, pesquisadores usaram tubos de aço e retiraram 50 metros desses estratos de solo, o
que seria o equivalente a um prédio de cerca de 16 andares. O que parece a construção de um poço, é na
verdade a coleta de amostras que serão analisadas para reconstruir os últimos 800 mil a 1 milhão de anos
da Mata Atlântica.
Além de terra, essas amostras, também conhecidas como testemunhos, contêm muitos materiais que foram
depositados ao longo dos milênios, como pólens e componentes químicos. Por exemplo, os gases hoje
aprisionados em poros de grãos de terra e a água hoje contida nas plantas fossilizadas já estiveram um
dia flutuando no ar ancestral. Assim, essas moléculas carregam informações que podem indicar como era a
atmosfera daquela época.
Esses vestígios do passado são registros do clima, da intensidade (ou falta) de chuva, dos incêndios
florestais, dos ciclos glaciais do planeta e como essas variações afetaram a Mata Atlântica e
influenciaram sua composição.
Os pólens são usados para identificar a diversidade da vegetação. Isso porque cada pólen tem um
formato
diferente específico que caracteriza a espécie da planta. Como uma marca registrada da ocorrência
daquela espécie. A presença do pólen é também uma forma de entender como era o clima da época, já que
cada planta requer condições específicas de luz, chuva, temperatura e outros fatores ambientais para se
desenvolver.
Entender o passado da Mata Atlântica nos ajuda a fazer previsões de como essa floresta pode reagir às
mudanças climáticas globais que hoje vivemos. No fim das duas últimas eras glaciais, a temperatura
aumentou, causando mudanças nas espécies e na paisagem da Mata Atlântica. Espécies típicas de florestas
frias, como Araucárias e Podocarpus desapareceram desses locais enquanto outras plantas adaptadas a
temperaturas mais elevadas permaneceram e se diversificaram.
Linha do tempo dos últimos 180 mil anos, com as transformações que a
Mata Atlântica sofreu ao longo de dois períodos glaciais e um interglacial. O estudo de pólens
aprisionados nas camadas profundas do solo permitiram construir esses cenários.
Essas mudanças climáticas do passado não são idênticas ao aquecimento global causado pelo ser humano.
Uma diferença importante é que os períodos antigos de aquecimento da Terra foram muito mais lentos do
que hoje presenciamos. Assim, se a velocidade do aquecimento global não for diminuída, é possível que a
Mata Atlântica não consiga responder rápido o suficiente a essas mudanças bem mais drásticas. ○